sábado, 28 de agosto de 2010

Apenas um sonho

Tudo está sem cor, sem sabor, mas ele cumpre seu ritual diário se deixando levar pela multidão como a um gado prestes a ser abatido.

Ele sabia que sua vida era sem graça, sem direção, mas já se conformara com isso e tentava fazer o seu melhor após décadas doutrinado. Sem perceber que algo já mudara.

Numa tarde, sem entender bem o porquê, algo estava diferente. Seria o clima ou seriam as férias que estavam por vir? Talvez aquela comida de fast food de horas atrás que engolira rapidamente não tenha caído bem.

Já de volta ao trabalho que o matava lentamente o dia se seguiu com telefonemas, chefe no pé, clientes apressados e  e-mails para enviar. Apenas mais um dia comum de expediente.

A caminho de casa ele retoma a sensação de algo diferente e nota um rosto incomum na multidão, mas a voz eletrônica daquela minhoca mecânica anuncia sua estação e ele desembarca seguindo a boiada. Olha para o céu e sente falta de algo... talvez uma estrela... ou seria a lua disputando espaço com o sol? Ele estranha a sensação já que ele nunca fora bom em astronomia.

Já em casa e depois de cumprir seus rituais domésticos ele se dirige à cama e adormece pensando fixamente na sensação estranha daquela tarde e sonha com aquela estrela que se transforma num doce e imponente anjo com enorme dorso convidando-o para uma viagem.

Guiados por um cometa, eles embarcam numa viagem cósmica em alta velocidade visitando outros astros, viveram e sentiram novas experiências, provaram sensações incríveis jamais vividas.

Desatentos, não perceberam que a velocidade e o calor do cometa os queimavam. Assustados eles tentaram alterar seu curso, mas já era tarde para qualquer mudança.

Eis que ele acorda assustado, suado e ofegante no meio da noite com aquela experiência insólita sentindo-se triste por ter sido apenas um sonho bom.

Levanta-se, vai à cozinha, toma uma dose de um vinho barato que ganhou numa promoção para relaxar e retorna ao seu quarto.

Aproximando-se da cama ele olha, ainda grogue de sono e do efeito do vinho, para sua velha cama esburacada e percebe uma pena branca chamuscada deixada delicadamente em seu travesseiro. Atordoado, ele olha para os lados como quem procura algo sem encontrar.

Agora ele não consegue mais dormir.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sempre ao seu lado


Começo esse blog homenageando alguém que nunca... nunca... nunca esquecera de mim, mesmo em seus momentos mais tristes.
Alguém que está sempre lá, pronto a estender um sorriso, oferecer um gesto carinhoso.
Seu nome? Morgana: uma cadelinha negra muito arteira colhida na rua ainda filhote por uma velha amiga em 2001.
Por que esse nome? Assim como este blog já revela, adoro histórias medievais e na época eu estava lendo: As Brumas de Avalon.
Com o tempo aquela bola de pêlos negros cresceu, com seu jeito espoleta de ser, encantando a quase todos. Nunca houve uma só vez em que esse pequeno ser não demonstrasse seu profundo carinho por mim batendo e arrastando seu cotovelos pelo chão quando me vê chegar em casa como sinal de devoção. Que fiz eu para merecer tanto?
Hoje, já com barbas brancas e quase 10 anos de idade (ou 70 na idade canina) começo a pensar no dia de sua partida e me recordo dos anos que já passamos juntos, dos momentos bons e ruins sempre se doando mais a mim que eu a ela.
Dizem que o animal assume características de seu dono e é bem possível que seja verdade. Quase não fico doente e não me lembro de quando a negrona (como a chamo às vezes) tenha adoecido. Sua única fraqueza são os rojões em épocas de festividade ou de competições esportivas, um verdadeiro desespero para ela e para quem vê seu estado emocional acalmado apenas quando escondida embaixo de minha cama sob minha "proteção".
A ela que dedico este blog como uma forma de imortalizar sua memória e o que ela representa pra mim.

Morgana= companheira, amiga, carinhosa, sempre presente.