sábado, 25 de setembro de 2010

O preço da independência

Quando somos jovens e estamos sob o teto de nossos pais somos obrigados a “obedecer” às regras do lar e a hierarquia familiar para manter sua organização. Quase tudo tem horário: café da manhã, almoço, jantar, banho, usar computador, jogar o game, fazer a lição de casa, brincar na rua com os amigos.
Como se não bastasse ele tem de justificar tudo o que deseja fazer, quando fazer, onde fazer, com quem fazer e pra que fazer.
Quem nunca se aborreceu com isso? Como todo adolescente tudo soa de forma imperativa e quando questiona tais ordens o argumento não faz o menor sentido: “- Sou seu pai/mãe e enquanto viver sob meu teto será assim.”
Cara de “choquito”, cursinho vestibular, hormônios a flor da pele e finalmente a universidade. Agora ele passa a ter um pouco mais de liberdade, conquistou seu direito constitucional de ir e vir quando ganhou seu possante Uno Mille (nada contra quem tem), mas ainda precisa justificar aonde vai, com quem está e a que horas volta, não apenas por controle, mas por segurança.
Provas, trabalhos em grupo, barzinhos, baladas, viagens bate-e-volta da praia, bebedeira, estágio remunerado trazem sensações nunca vividas antes (o gostinho de controle da sua própria vida).
Então chega a hora de morar sozinho e começa o garimpo por um “AP” que facilite o acesso a Universidade e ao trabalho, mas nem tudo são pérolas e a grana do estágio dá apenas para um Flatizinho na periferia. Ele avalia as condições e decide assumir a própria vida.
A sensação de liberdade é maravilhosa e merece registro com uma foto tirada na câmera do seu celular popular imaginando poder tomar banho de 2 horas, ouvir um som no último volume, ver TV até de madrugada, largar a roupa pela casa, promover festinhas com amigos no final de semana, falar coisas picantes ao telefone para a namorada sem ninguém por perto.
Os meses passam, ele é promovido de estagiário para trainee efetivado com razoável remuneração. Mais responsabilidade e com horário para entrar não para sair cumprindo carga horária de 12 às vezes 14 horas por dia inclusive alguns finais de semana. (Lá se foram as festinhas)
Seu tempo é curtíssimo para lazer com amigos... E a namorada? Foi procurar alguém pudesse lhe dar atenção.
As contas e o cansaço são cada vez maiores e ele já não sabe se essa liberdade é real, pois se sente preso a um sistema que só muda de ambiente.
Ebaaa!!! Feriado prolongado, finalmente a tão sonhada praia com amigos traz de volta o gostinho da liberdade e dos tempos de faculdade, mas com um sabor meio amargo, pois sabe que seu celular não pode ser desligado tendo de voltar imediatamente para o trabalho se for solicitado.
Céu azul, toalha, bronzeador, óculos escuros e cerveja à vontade. Ele respira fundo, dá uma boa olha a sua volta e nota um vendedor de espetinhos de camarão de meia idade e pensa: “Esse sabe aproveitar a vida, ganhando seu dinheiro num lugar paradisíaco como esse aqui”.
- Campeão! Quanto custa o espeto?
- Treis real moço.
- Quero cinco espetinhos, por favor. Toma aqui R$ 20,00 e pode ficar com o troco.
- Brigado, moço.
E o vendedor pensa: “Rapaz de sorte teve tudo fácil na vida, cheio da grana e enquanto ele se diverte eu tenho de suportar esse sol na minha cabeça andando todo fim de semana para sustentar as 11 bocas lá de casa.”

2 comentários:

  1. O que eu acho chato mesmo é ter que pedir dinheiro aos meus pais. O resto eu acho bastante justo.

    Medinho das possibilidades de futuro suegeridas no texto kkkk. Quando o negócio tá melhorando, a pessoa percebe que a tendência real é piorar. Difícil.

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  2. Eu ainda não moro sozinha, mas quando morei, voltar para a casa dos pais sempre é um sofrimento. AS coisas já não são da mesma maneira, os hábitos são outros e me sinto sempre uma estranha que é filha, mas que não é a minha casa... estranho que me sinto em casa e não me sinto à vontade... conhece essa sensação?

    Claro que quero ter meu cantinho um dia, mas não quero sacrificar tudo o que tenho e o que não tenho pra isso, já meti os pés pelas mãos uma vez, agora pretendo seguir a minha vida de filhote de canguru, mesmo correndo o risco de continuar me sentindo estranha na minha própria "casa"... enfim, futuro incerto..

    Kisu!

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