quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Um ato de cidadania


Esse foi um dia em que me indignei ao ponto de não suportar mais a atitude inerte das pessoas que, como eu, vêem todos os dias as atitudes erradas na sociedade, mas se calam por covardia ou egoísmo.

Estava viajando em um “moderno” e confortável trem da CPTM com partida na estação de Santo André sentido Júlio Prestes na Luz. Bancos estofados, ar condicionado, painel eletrônico, portas largas e pasmem estava limpo e sem aqueles vendedores ambulantes equilibrando-se no sacolejar daquela minhoca metálica.

Tudo estava bem até que uma moça senta-se a minha frente mastigando um pratinho de milho e como se não bastasse o cheiro tomar conta do vagão tive de ver aquela pasta amarela sendo mascada por aquela boca aberta e sem dentes.

Até aí... vá lá... sabe-se lá o perrengue vivido por aquela pobre alma naquele dia paulistano. Terminada a sessão ruminante, a passageira sem saber muito bem o que fazer com o tal pratinho de isopor, decide quebrá-lo ao meio e já com os dedos engordurados deposita o seu lixo sob o banco discretamente como se ela estivesse sozinha no vagão.

Aquilo ferveu meu sangue e notei que outros passageiros também se indignaram, mas como todo bom brasileiro ninguém abriu a boca para falar nada.

Acho uma tremenda falta de respeito ter de conviver em uma cidade emporcalhada por falta de decência alheia.

Enquanto viajava pensei: “Como pode o povo reclamar da impunidade dos governantes se a própria população se acomoda diante de atos visivelmente errados? Depois não querem que estrangeiros falem que somos macacos numa selva. A impunidade impera nesse país, mas o maior responsável por isso quem é? O próprio povo por sua inércia. Ops, mas eu também faço parte desse povo, então como falar com a porquinha sem ferir seus sentimentos?”

Resolvi praticar um ato de cidadania.

- Oi, moça! Você vai descer na estação Luz? Perguntei calmamente.

- Sim!

- Que bom e você pode me fazer um favor?

- Claro! Respondeu ela com os dentes cravejados de grãos.

- Você pode recolher o lixo que você depositou embaixo do seu banco, pois é muito feio sujar o vagão que todos usamos?

- Claro moço! Disse com a voz trêmula.

- Você nem precisava me pedir isso. Eu até coloquei minha sacola do lado para não esquecer.

- Então respondi. Ok, ok. Fico feliz e agradeço.

Senti um alívio enorme e percebi que outros passageiros também, mas ainda desconfiado de sua palavra fiquei atento.

Chegando à estação Luz, o que faz a fulaninha? O óbvio. Levanta-se com suas sacolas e sai tranquilamente em direção à porta.

Indignado, perguntei já em voz alta: - Ei, moça! Você não se esqueceu de nada?

Nervosa ela responde: - Se isso te incomoda, pegue você mesmo.

Já nervoso e dirigindo-me à porta, respondi: Pego sim, mas é uma pena que minha cidade tenha que conviver todos os dias com pessoas porcas como você e faço isso porque amo minha cidade. Acho que o lixo que produzimos não deva ser compartilhado pelos outros.

Ela, envergonhada, não sabia por onde sair.

O trem pára e a multidão do lado de fora quer entrar sem sequer esperar o desembarque. Um verdadeiro choque de manadas.

Empurrões e acotoveladas a parte, saí e de alma meio lavada, pensei em todo o ocorrido e acho que essa nunca mais jogará um lixo na rua.

Será???

5 comentários:

  1. oiii ,,edú ...da mesma maneira que tu ficaste indignado com a tal atitude da nossa brasileirinha ,eu tbm fiquei ,,,qualquer pessoa em sã com conciencia faria o que tu fez,,ela jamais tem no minino se quer um pouquinho de senso do ridiculo ,,,no mundo que vivemos ,,que se diz tanto em cuidar da natureza ,,jogar o lixo no lixo ,,reciclagem ,,e vem uma pessoa dessa e faz uma atitude inojavel,,,é de arranc ar os cabelos de indignação...nao importa o que ela esteja passando na vida ...é desse jeito que o nosso meio ambiente e nosso mundo cada dia mais sujo e imundo ,,,graças a vc amigo ,,,um plastico a menos pra se decompor a 100 anos ,,obrigado edú pela sua atitude ,,ganhou o dia ...amando suas postagens ,,,abraço ..

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  2. Du,

    Todo mundo sabe em seu íntimo o que é certo e o que é errado. Cabe a cada um arcar com as consequências de suas escolhas. Ela teve de arcar com a escolha dela. E você com a sua. Viver é fácil...conviver é que é o difícil....porque são muitos fazendo diferentes escolhas ao mesmo tempo. Mas NINGUÉM escapa de arcar com as consequências. Continue escolhendo fazer o bem...para colher o bem.
    Bjinhos
    Nady

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  3. Oi Eduardo. Vim agradecer a sua visia ao meu blog. Seja muito bem vindo viu!

    E sobre o seu post, acho que educação é um exercicio diário. Pessimista que sou, não creio que este ato isolado surta efeito. No seu lugar eu falaria com mais cuidado. Diria algo do tipo " Hey, voê esqueceu de levar o seu lixo!". Já fiz algumas vezes e deu certo.

    E sobre suas bandas preferidas, são as minhas também!
    Beijos

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  4. Eu sempre reclamo com os meus colegas de turma, peço que apanhem seu lixo e joguem no cesto, mas isso é com pessoas que tenho certa intimidade. Em situações como a sua, eu apenas recolho e coloco no lixo, às vezes, a pessoa se sente envergonhada por alguém ter limpado sua sujeira, às vezes, não demonstram nada.
    Admito que nem sempre que vejo atitudes mal educadas como essa, faço alguma coisa. Há dias em que não tenho paciência nem para mim mesma.

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  5. Esse povo é mto mal educado. Reclamam do governo, mas ninguém faz nada como cidadão. Esse não é um caso isolado. Onde trabalho tem lixeiras de selação de lixo e NUNCA ninguém joga as coisas certas pela simples preguiça de distinguir o que é o material e jogar no lugar indicado... brasileiro é um povo mto mal educado. Sei bem disso pq qdo morava no Japão todos os brasileiros jogavam lixos nos dias errados e a prefeitura não recolhia, devolvia na porta até eles acertarem..

    Kisu!

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